Na Igreja Católica, a designação de “santo” é reservada a pessoas que, após a morte, são reconhecidas por terem vivido uma vida de virtudes heroicas ou por terem morrido como mártires. O processo formal para essa declaração é conhecido como canonização, um procedimento detalhado e longo que confirma que a pessoa está no céu e pode ser publicamente venerada. Este reconhecimento serve para apresentar aos fiéis modelos de vida cristã a serem seguidos.
As Fases do Processo de Reconhecimento
O processo para se tornar santo é composto por quatro etapas principais. Cada fase representa um grau de reconhecimento pela Igreja, culminando na declaração final de santidade.
1. Servo de Deus
A primeira fase começa após a morte do candidato. Geralmente, é necessário aguardar cinco anos, embora o Papa possa dispensar esse período, como ocorreu com a Madre Teresa de Calcutá e o Papa João Paulo II. O bispo da diocese onde a pessoa faleceu inicia o processo a pedido de um grupo de fiéis.
Com a autorização do Vaticano (o nihil obstat, que significa “nada impede”), o bispo abre a causa. A partir deste momento, o indivíduo recebe o título de Servo de Deus. Nesta etapa, são recolhidos todos os documentos, escritos e testemunhos sobre a vida e as virtudes do candidato.
2. Venerável
Após a conclusão da fase diocesana, toda a documentação é enviada para o Dicastério para as Causas dos Santos, em Roma. Se a análise do material confirmar que o Servo de Deus viveu as virtudes cristãs (fé, esperança e caridade, além das cardeais) de forma heroica, o Papa autoriza a publicação de um decreto sobre suas virtudes.
Com este decreto, o candidato passa a ser chamado de Venerável. Este título indica que a pessoa é um modelo de vida cristã e pode ser venerada privadamente pelos fiéis, mas ainda não publicamente na liturgia.
3. Beato (Beatificação)
Para que um Venerável seja declarado Beato, é necessária a comprovação de um milagre ocorrido por sua intercessão após a sua morte. O milagre, na maioria das vezes, é uma cura inexplicável à luz da ciência atual. O processo de verificação é rigoroso:
- Uma equipe de médicos e especialistas analisa o caso para confirmar que a cura não tem explicação científica.
- Uma comissão de teólogos avalia se a cura pode ser atribuída à intercessão do Venerável.
Se o milagre for aprovado pelo Papa, ele preside a cerimônia de Beatificação, e o Venerável passa a ser chamado de Beato. A partir daí, ele pode receber culto público, mas restrito à sua diocese ou congregação religiosa.
Para os mártires: No caso de alguém que morreu por martírio (em defesa da fé), o reconhecimento do martírio substitui a necessidade de um milagre para a beatificação. O martírio é considerado o testemunho supremo da fé.
4. Santo (Canonização)
A etapa final é a canonização. Para que um Beato seja declarado Santo, é necessária a comprovação de um segundo milagre. Este novo milagre deve ter ocorrido após a data da beatificação. O processo de verificação é o mesmo aplicado ao primeiro milagre, com análise médica e teológica.
Com a aprovação do segundo milagre, o Papa convoca um consistório (reunião de cardeais) e, em seguida, marca a data para a cerimônia de canonização. Durante a cerimônia, o Papa declara oficialmente a pessoa como Santa. A partir desse momento, o Santo pode ser venerado publicamente pela Igreja em todo o mundo, e seu nome é inscrito no catálogo dos santos.
No último domingo (7), o Vaticano canonizou o jovem italiano Carlo Acutis, que morreu em 2006, aos 15 anos, vítima de uma leucemia agressiva.
Conhecido como o “padroeiro da internet”, Carlo tornou-se o primeiro representante da geração millennial — formada por pessoas nascidas entre os anos 1980 e 1990 — a ser oficialmente reconhecido como santo pela Igreja Católica.
O Papel do Postulador e do Dicastério
Cada causa de santidade tem um postulador, que é a pessoa encarregada de promover o processo. Ele é responsável por coletar as provas, organizar a documentação e representar a causa junto às autoridades diocesanas e ao Vaticano.
O postulador atua como o principal defensor da causa, garantindo que todos os procedimentos sejam seguidos corretamente. O Dicastério para as Causas dos Santos, por sua vez, é a instituição central que analisa, verifica e julga cada etapa do processo, assegurando a integridade e a seriedade de cada declaração. Veja mais no Blog Bizu.
Perguntas Frequentes
Quanto tempo dura um processo de canonização?
Não há um tempo fixo. Alguns processos duram poucos anos, enquanto outros podem levar séculos. A duração depende da complexidade da causa, da rapidez na coleta de documentos e testemunhos, e da verificação dos milagres.
Qualquer pessoa pode se tornar santa?
Sim, a Igreja ensina que todos são chamados à santidade. O processo de canonização é a forma oficial de reconhecer publicamente aqueles que viveram essa vocação de maneira exemplar.
O que acontece se um milagre for desmentido?
Se, durante a análise, um suposto milagre for explicado pela ciência ou se houver dúvidas sobre a intercessão, ele é descartado. O processo só avança com a comprovação de um evento que seja considerado cientificamente inexplicável.
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